segunda-feira, 12 de maio de 2014

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Libertar-se.


O dia amanheceu mais claro, mais limpo, exato, mais revelador.
Libertar-se dói, expandir-se dói, o processo de mudança em si é doloroso, as vezes faz-se necessário livrar-se de partes de gente para darmos espaços para novas coisas, novas pessoas, novos ares. Despedir-se das pessoas é também se despedir da gente, é acordar e ver que falta uma peça que antes estava lá e agora não está mais, é lidar com a ausência da pessoa e com a ausência do que a gente era quando estava com a pessoa, é uma saudade dupla, um doer lento, um descamar que vem de dentro e explode por fora, levando embora os sorrisos que antes eram fáceis e agora passam a ser doídos. Libertar-se é lavar a alma, com lágrimas, para somente depois florescer, ressurgir e se preparar de novo, para cair. Ciclo interminável, da vida, libertar-se é assim.

Júlia Carvalho

sábado, 10 de maio de 2014

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Sozinha...

Ah se você soubesse o que há reservado, em mim, para você.
Mascaro o meu querer, guardo os meus sentimentos, devidamente embrulhados em um sorriso, dentro de mim.
Ah se você pudesse ver além do que mostro a você... Se você soubesse que tudo o que procura, se encontra dentro de mim.
Te quero em silêncio e rogo teu nome, como um mantra, na calada da noite.
Tento resistir a sua invasão, aos meus sonhos, como gotas lentas que se infiltram através da cortina dos meus delírios, você me invade, possui meus pensamentos e consome minha vontade, mina minha resistência, lenta e progressivamente.
E assim, como quem não quer nada, você me domina e me faz tua, me faz seguir teus passos, mendigar seus abraços e ansiar por teus lábios.

Vou sendo tua, e mais tua, dia após dia, noite após noite, mesmo diante do seu negar, do seu não-querer, vai levando embora minhas vontades, roubando lentamente minha sanidade, vai olhando sem me ver.

Júlia Carvalho
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Ausências...

Ao contrário do que a maioria pensa, não somos compostos de presenças e sim de ausências. Pessoas vêm e vão, levando partes de nós, e observamos, inertes, como um solitário viajante, no porto, vendo seu navio zarpar. Pessoas estas que já entram em nossas vidas com papel predefinido, e que após missão cumprida se vão, para fazer a diferença em outras vidas. Mesmos cientes dos processos e entre manhas do destino, sofremos. As ausências nos causam um vazio, é como um quebra cabeça que antes estava perfeitamente encaixado e que agora, falta uma peça. Preferível é, diante das ausências, optarmos pelo silêncio, para que no âmago da nossa dor não causarmos feridas naqueles que apenas cumpriram seus papeis, previamente ditado, pelo destino.
Para aqueles que em algum momento da minha vida foram presenças, e hoje são ausências, fica aqui o meu “Muito obrigada” por ter me ajudado, de uma forma, ou outra, definir, quem agora sou.

Júlia Carvalho
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Diferentes...


Imãs de polaridades inversas, assim nós somos.
Você com seu medo, excessivo do amor e eu ansiosa por ser amada.
Dedos que se tocam mas não entrelaçam, olhos que se cruzam mas não se encaram.
E aos poucos você vai sendo tomada, arrastada, de mim, pelas mãos do destino.
Vai embora e leva tudo meu e vejo, inerte, o seu partir.
Leva tudo meu, tudo o que sou e o que buscava ser, ao teu lado.
Nem tempo tive eu de te saborear, um pouco mais, esse seu sorriso, tão encantador.
Leva embora, tudo meu, silencie minhas palavras, juras eternas, presas em mim, só para você.

Júlia Carvalho